*Por Ricardo de Oliveira, CEO do Fórmula Pet Shop, sócio e diretor de expansão da Bable Pet, especialista do mercado pet.
O mercado pet brasileiro vive um momento de transformação silenciosa, porém profunda. Em meio a um cenário econômico de incertezas e retração em diversos setores, o segmento de produtos e serviços para animais segue crescendo em ritmo acima da média.
Ainda assim, a pergunta que muitos investidores fazem é inevitável: ainda vale apostar em pet shops em 2026?
A resposta é sim, mas apenas para quem compreende que o tutor de hoje não busca só preço, e sim valor, conveniência e propósito.
O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de população pet, com mais de 160 milhões de animais de estimação, segundo o Instituto Pet Brasil (IPB). Só em 2024, os segmentos de Produtos Veterinários e Serviços Veterinários cresceram cerca de 16% e 14,2%, respectivamente, no faturamento da indústria, de acordo com Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
Esses números mostram uma tendência clara: o tutor está disposto a gastar mais quando enxerga qualidade, cuidado e bem-estar no que consome. O consumo impulsivo e de baixo valor agregado perde espaço para um mercado mais exigente e informado.
Outro ponto decisivo é a digitalização. Segundo levantamento da All Pet Tech (2024), o e-commerce pet brasileiro movimentou cerca de R$ 4,6 bilhões em 2023, mais que o dobro do registrado em 2019. Plataformas de assinatura, programas de fidelidade e entregas automatizadas transformaram a forma de compra e de relacionamento entre lojistas e tutores.
Quem não incorpora tecnologia e modelos de recorrência às suas operações, corre o risco de perder competitividade em um mercado cada vez mais conectado.
Entretanto, a expansão não significa ausência de riscos. A concorrência predatória, o aumento dos custos fixos e a informalidade ainda derrubam muitos negócios. O entusiasmo com o crescimento do setor, quando não é acompanhado de gestão eficiente, acaba em frustração.
É comum ver empreendedores abrirem pet shops sem compreender indicadores como CMV (Custo da Mercadoria Vendida), fluxo de caixa e perfil de consumo local, erros que comprometem o negócio mesmo em um mercado aquecido.
Há quem diga que o setor está saturado, mas essa visão ignora a evolução do consumidor. O novo tutor busca experiência, conveniência e especialização.
Lojas que investem em alimentação natural, nutrição funcional, estética avançada e planos de saúde veterinária conquistam espaço por oferecerem soluções integradas e personalizadas. Já os pet shops genéricos, sem identidade e sem gestão, tendem a desaparecer. O sucesso, em 2026, estará nas mãos de quem entende o comportamento humano por trás do consumo pet.
Investir no mercado pet, portanto, continua sendo uma decisão inteligente, desde que estratégica. O futuro do setor não pertence aos aventureiros, mas aos profissionais que tratam o pet shop como um negócio de gente para gente, com método, propósito e gestão.
A era do improviso ficou para trás. Quem enxergar isso agora, vai liderar a nova fase de um mercado que, mais do que promissor, se torna cada vez mais humano.