Um dos pontos altos do segundo dia do Festival Internacional de Inovação de Londrina (FIIL 2025) foi o painel “Descomplicando Políticas Públicas de Inovação”, que trouxe dois municípios paranaenses ao centro do debate: Toledo e Ibiporã.
A mediação foi da advogada Renata Queiroz, sócia de GovTech do Baptista Luz Advogados, que abriu a conversa derrubando mitos:
“Se o poder público não atrapalhar, ele já ajuda” e “inovação é coisa para cidade grande”.
Segundo ela, essas são as frases que mais escuta ao prestar consultoria a governos.
“Estamos aqui justamente para mostrar que isso não é verdade. O município pode, sim, fomentar inovação e pode fazer isso com instrumentos simples e acessíveis”, afirmou.
A primeira convidada a falar foi a diretora-executiva de Inovação da Prefeitura de Toledo, Tatiany Barbieri cuja experiência com o CPSI — Compras Públicas de Soluções Inovadoras virou referência no Paraná.
“É uma honra compartilhar a nossa trajetória. Sempre tivemos inovação muito presente na rotina do município, mas inovar no setor público é muito difícil quando você não pode comprar nada que envolva risco tecnológico”, disse.
Tatiany explicou que Toledo regulamentou a modalidade em 2021.
“Antes, tudo era muito engessado. Você só podia comprar algo com especificações prontas, igualzinho a uma licitação convencional. A CPSI permitiu finalmente adquirir uma solução cujo resultado ainda não está totalmente definido”, relatou.
A construção desse caminho, no entanto, não foi simples.
“O primeiro passo foi levantar nossas demandas. Reunimos todas as secretarias e chegamos a 14 necessidades — e 12 tinham base tecnológica”, contou.
Depois de filtrar a viabilidade, chegaram a cinco possibilidades e escolheram uma, levando em conta um desafio decisivo: o orçamento. “Essa é a primeira dica que deixo. Sem entender o orçamento disponível, a CPSI não caminha”, afirmou.
Articulação é o segredo
Outro ponto-chave foi a articulação interna.
“A segunda dica é simples: articulação, articulação e articulação. Muitas áreas estão envolvidas — jurídico, compras, secretarias. Se quem participa não entende seu papel, o processo emperra”, destacou.
Com o edital pronto – elaborado sem referências prévias, já que o município não dispunha de modelos como o Catalisa Gov na época –, Toledo recebeu oito inscrições de startups.
“Divulgamos nacionalmente porque queríamos a maior diversidade possível de soluções”, explicou Tatiany.
Três propostas foram consideradas aderentes ao problema e uma foi selecionada para a prova de conceito (POC).
A diretora faz questão de frisar um ponto central: soluções já prontas, de prateleira, não servem para CPSI.
“Se a startup tem algo 100% pronto, não é inovação e não tem risco tecnológico. Portanto, não se enquadra”, disse.
A POC permitiu que o município testasse a solução sem amarras. E o resultado surpreendeu:
“Testamos e concluímos que a solução não atendia à nossa necessidade. Num processo tradicional, estaríamos presos ao contrato. Com CPSI, tivemos liberdade para encerrar. Isso é revolucionário no setor público”, afirmou.
Tatiany destacou ainda o arcabouço legal da modalidade.
“A POC pode durar até 12 meses, prorrogáveis por mais 12. E, se a solução funcionar, a contratação pode ser até cinco vezes o valor investido na prova de conceito. Isso tudo precisa estar previsto em edital”, detalhou.
Depois da apresentação da experiência toledana, foi a vez de Ibiporã mostrar sua visão. O prefeito José Maria Ferreira enfatizou a importância de estratégia e continuidade para transformar inovação em política pública.
“Inovar não é um ato isolado, é um processo organizado. Os municípios não podem ter medo de testar caminhos novos”, disse. “Quando a equipe entende que inovação não é risco, mas oportunidade, tudo flui melhor”, afirmou.
Ferreira ressaltou que a experiência de Toledo inspira outros gestores.
“O que Tatiany apresentou aqui mostra que dá para fazer, mesmo em cidades médias. O que falta muitas vezes não é recurso, mas decisão política e capacidade de articulação”, avaliou. O prefeito defendeu ainda que municípios se apoiem mutuamente: “O desenvolvimento regional depende de iniciativas conjuntas. Se uma cidade avança, o território avança”.
A mediadora Renata reforçou o recado dos convidados.
“Estamos falando de instrumentos legais acessíveis e que não exigem grandes estruturas. O que exige é vontade de fazer”, concluiu.
O painel mostrou que inovação pública não é exclusividade de grandes capitais — e que municípios, quando se articulam, podem abrir portas para soluções mais eficientes, econômicas e adaptadas às suas realidades.