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Montanhas, cosméticos e Psicologia: Ana Volpe e a conquista de novos caminhos

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ana volpe economiapr
Foto: Rodrigo Zorzi

Mudar de carreira ou área de atuação é um desafio que exige mais do que coragem; requer uma decisão firme e planejada. Embora muitos permaneçam em sua zona de conforto, a maringaense Ana Volpe é um exemplo de quem escolheu trilhar novos caminhos. Formada em Farmácia Industrial, com especialização em Cosmetologia pela Universidade Estadual de Maringá, e também psicóloga e psicanalista pela Universidade de São Paulo (USP), Ana atua simultaneamente nas duas áreas de formação.

Com uma carreira consolidada no Grupo Boticário, Ana Volpe decidiu, aos 35 anos, iniciar seus estudos em psicologia, ampliando seu campo de atuação. Atualmente, ela atende a indústria farmacêutica do setor de beleza, e também é responsável por uma linha de produtos de skincare em parceria com a farmácia Vitacora, referência na cidade de Maringá. Além disso, está prestes a lançar uma linha de cosméticos à base de vinho em colaboração com um grande SPA nacional.

Paralelamente à carreira profissional, Ana Volpe se dedica ao montanhismo. Aos 50 anos, ela está envolvida no projeto “7 Cumes”, que tem como meta escalar os sete maiores picos do mundo. Uma verdadeira aventura que exige “equilibrar pratos” e “acreditar”. Confira:

O que a motivou, aos 35 anos, a mudar de rumo e estudar psicologia? Como foi essa transição para uma segunda carreira?

Ana Volpe: O que me motivou a mudar de carreira aos trinta e cinco anos de idade…? Definitivamente foi poder conciliar minha vida pessoal com a minha vida profissional. Quando eu tive as minhas filhas eu parei de trabalhar. Eu trabalhava em chão de fábrica, na indústria de cosméticos. Eu parei de trabalhar e me dediquei 100% a esse projeto que era maternar, e quando a minha pequena – eu tenho duas meninas que hoje tem 20 e 22 – fez dois aninhos, eu falei “puxa, eu quero que elas se enchem de orgulho de mim”. E aí eu comecei ficar nesse lugar desconfortável, sabe? “Eu quero que daqui alguns anos elas se inspirem em mim, eu quero motivá-las a serem independentes, com liberdade – e a liberdade está muito vinculada à questão financeira também.” E aí eu pensei: “como eu posso equilibrar todos os pratinhos?”. E a saída foi me tornar uma profissional liberal, porque é a minha primeira formação é como farmacêutica industrial, então ou você precisa estar dentro de uma farmácia, ou na indústria, ou sendo meramente um consultor – e não era a minha ideia. Eu gostava de realmente pôr a mão na massa. Aí eu falei: “bom, já sei, pra ser um profissional liberal, que eu possa cuidar da minha própria agenda, eu vou estudar psicologia, porque daí eu atendo o horário que as meninas estiverem estudando, o horário que elas tiverem escolinha, e vai dar tudo certo”. Eu poderia ter cortado o caminho, ter feito apenas uma formação em psicanálise. Muita gente falava isso pra mim: “ah! Você já tem uma faculdade na área da saúde… Por que você não vai fazer uma pós em psicanálise?” Mas aí eu entendi que eu queria me aprofundar realmente, dada a importância que eu dou ao tema psicologia, sou filha de médico psiquiatra, nasci nesse mundo e vi o lado da patologia psiquiátrica, da doença mental. A gente não prevenia, a gente não investia em saúde mental, então sempre dei muito valor a isso. Portanto, aos trinta e cinco, exatamente com trinta e cinco anos de idade eu comecei uma segunda faculdade, muito difícil, casada, com duas filhas. E aos meus quarenta anos eu comecei a atender. Essa transição foi difícil no começo, me separei justamente quando estava recebendo meu diploma…  Foi muito difícil com duas meninas pequenas, recém separada, mas com a ajuda de amigos e professores, que foram me dando esse apoio, me conheciam e sabiam da minha dedicação, do meu empenho, eu fui construindo essa nova carreira. Hoje eu posso dizer que eu estou com a clínica completa, mas eu comecei aos 40 só atendendo psicologia, isso durou muitos anos, até que eu me cansei de comprar e gastar dinheiro com cosméticos muito caros… Eu adorava marcas francesas, japonesas, e aí eu decidi fazer em uma farmácia de manipulação de Maringá um creme pra mim, porque eu tinha esse vasto conhecimento. Fiz algumas especializações na área de perfumaria na França, mesmo depois de formada em psicologia, pois eu sempre continuei muito próxima do mundo dos cosméticos. Então eu decidi, em 2019, fazer um creme pra mim que tivesse um monte de coisa que eu achasse incrível. E as minhas amigas aqui em São Paulo falavam: “nossa, sua pele está linda, o que você está usando?” Eu falava: “estou fazendo um creme assim e assim”, explicava como era, falava pra ligar na farmácia de manipulação tal e pedir pra fazer o creme. Todo mundo começou a ligar, começou a fazer sucesso. E aí a farmácia propôs de a gente desenvolver e fazer mais produtos dessa linha, porque estava fazendo o maior sucesso. E aí desenvolvemos toda uma gama de produtos chamada “Hibiscos por Ana Volpe”. Então é um sucesso, foi incrível. Nasceu em 2019, logo veio a pandemia e foi inacreditavelmente surpreendente o quanto vendeu. Então foi muito espontâneo, eu lidar, nos meus intervalos com os meus pacientes, para tratar disso, dessa outra versão minha. Não é tudo glamour, dá trabalho, é desafiador, é muito difícil empreender.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao construir e equilibrar suas duas carreiras? Houve algum momento em que pensou em abandonar uma delas?

Ana Volpe: O maior desafio que eu tive, e que ainda tenho, é a comunicação. Fica difícil explicar, as pessoas confundem essa sua habilidade em dois temas, não compreendem. Mas dentro de anos de estudo e dedicação, e ser literalmente certificada para falar em atuar nessas duas áreas, eu acabo conseguindo comprovar que é possível. O que eu vejo é que hoje, por exemplo, no mundo dos cosméticos, são muitas influencers que confudem gostar de cosméticos e de fazer skincare, com entender sobre o tema. Não é meu caso. Gosto de cosmético, fiz uma faculdade para poder atuar nessa área. A mesma coisa com psicologia. Mas as pessoas têm dificuldade de perceber que uma pessoa pode fazer mais de uma coisa, atuar em duas áreas distintas. E que você pode ser bem sucedida, e que você está realmente empenhada, comprometida com suas áreas. Outro desafio é continuar sendo sempre relevante e superar esse preconceito que as pessoas têm de que uma pessoa que é vaidosa, que investe em hobbies, pode ser também profundamente comprometida com duas profissões que ama.

O que podemos esperar da sua nova linha de cosméticos à base de vinho e da parceria com o SPA?

Ana Volpe: Eu estou com muita expectativa e eles também. Ainda nem lançamos a linha de skincare, mas já estamos em um momento de muita animação, onde eles já estão pensando no SPA da vinícola, pensando no que fazer para o futuro. A história com a vinícola é muito interessante, porque eles já eram meus clientes e gostavam tanto, acreditavam tanto, que falaram: “Olha, essa é uma tendência nas vinícolas (ter uma linha de skincare) e nós não conseguimos pensar em outra pessoa para desenvolver a nossa linha que não seja você”. Então essa confiança me enche de orgulho. Eu tenho absoluta certeza do sucesso das duas linhas!

O que o montanhismo tem ensinado sobre resiliência e superação, e como isso se reflete em sua vida pessoal e profissional?

Ana Volpe: O montanhismo tem me ensinado a prestar atenção nas coisas mais básicas da vida, e é bonito isso. A montanha é um ambiente muito inóspito, acima de 5 mil metros de altitude, não tem nada, não tem vida, não tem abrigo, você tem que se virar. E se virar para as coisas mais básicas da vida: para respirar, porque tem pouco oxigênio, você precisa descongelar gelo para beber água, precisa levar toda comida, então você precisa se despir de todas as facilidades da vida urbana e se atentar nas coisas mais básicas da existência. Eu gosto muito disso. As pessoas, na facilidade, tendem à acomodação, e eu não gosto disso, gosto do desafio.  É a forma que eu encontrei – na natureza extrema – de me sentir viva. E é um lugar onde me sinto muito conectada com a minha espiritualidade (e é MUITO conectada mesmo). Eu não frequento nenhum tipo de templo religioso – gosto da liturgia de muitos credos, mas o meu templo é na montanha: onde há minha entrega total, da vaidade, do orgulho, de tudo isso. Lá você tem que aprender a prestar atenção em cada passo que você dá pra não cair em uma greta, pra não cair no abismo. Aprender a dar um passo. Por conta da falta de oxigênio, isso também deve ser aprendido. Sênica – aquele filósofo grego – dizia: “É quando os tempos são bons que você deveria se preparar pra tempos mais difíceis, pois quando a sorte é bondosa a alma pode construir defesas contra seus estragos. É por isso que soldados praticam manobras em tempos de paz, construindo fortificações, esgotando-se sobre nenhum ataque, para que quando o inimigo chegue, eles não se abalem.” Lógico que não estou à espera de nenhum inimigo, mas o inimigo é a nossa mente mesmo. Que às vezes tende a acomodação, à fraqueza, ao vitimismo e a montanha ela me dá “shots” intensos de lembrança do nosso tamanho.

Quais são seus próximos projetos ou objetivos, tanto na sua carreira quanto no montanhismo?

Ana Volpe: Eu tenho como objetivo, sendo uma mulher de 53 anos, criando filhas, transformar e incentivar minhas filhas e outras mulheres a serem mulheres fortes, boas, caridosas. Que tem um propósito na vida, que deixam uma marca positiva. E marca positiva, eu digo nas pessoas a sua volta – eu digo a distância de um braço – e de um abraço. Braço pra você esticar e ajudar a puxar a pessoa, um abraço pra você consolar e celebrar. Então eu tenho me dedicado, especificamente nas montanhas, a encorajar mulheres acima dos cinquenta a não desistirem. Não acabou pra gente. Pode ser que esteja só começando. Eu comecei no montanhismo, na verdade, aos cinquenta anos de idade, e pra pagar uma promessa, de uma sobrinha que sobreviveu ao nascimento muito complicado. Então foi pra honrar e celebrar a vida da filha do meu irmão. E a partir daí eu falei: “nossa eu vou fazer isso pra celebrar muitas mulheres.” Então eu faço pra incentivar outras mulheres a subirem suas montanhas. E às vezes a montanha que precisamos subir é conseguir responder um e-mail, que é muito difícil pra você, é se colocar numa reunião que só tem colegas homens a sua volta, é dar um passo importante na vida.


Que conselhos daria para quem deseja seguir uma trajetória tão rica e diversificada?

Ana Volpe: Meu conselho é: não espere que outras pessoas validem o teu sonho. Não precisa começar grande, não é grande que começa. É dando um passo, aquele pequeno passo. Mas acredite, acredite em você, dê esse pequeno passo. A minha linha de cosméticos, por exemplo, começou pequena. Tinha um creme pra mim, as pessoas pediram, foi acontecendo. E ele quis nascer. Um projeto que quis nascer. Eu dei um primeiro passo. E aí veio uma avalanche de coisas boas. Mesma coisa na psicologia. Eu acreditei. E hoje eu tenho uma clínica super próspera. Dar o primeiro passo faz as coisas acontecerem depois, é mágico como funciona. Então acredite no teu sonho.

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Jornalista, Community Manager e Editora-chefe do Economia PR

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