Às vésperas do Dia Nacional da Saúde, celebrado em 5 de agosto, Foz do Iguaçu se projeta para além das Cataratas do Iguaçu e de todo o seu potencial turístico. Nos últimos anos, a cidade vem construindo um ecossistema robusto de saúde pública e privada, que atende não só seus moradores, mas também pacientes de municípios vizinhos e países da Tríplice Fronteira.
Em 2024, a rede pública municipal realizou 45,5 mil atendimentos a estrangeiros, um aumento de 34% em relação a 2023. Só no primeiro trimestre de 2025, esse número já cresceu mais 12%.
Hoje, estrangeiros representam 5% dos atendimentos do SUS local, e a quantidade de cartões SUS cadastrados é 62% maior que a população da cidade, reflexo da demanda regional.
“Foz já é referência regional e tem potencial para se tornar um modelo nacional de atendimento público de qualidade. Nosso desafio é equilibrar a alta demanda, impactada pela população flutuante, com o financiamento adequado para municípios de fronteira”, afirma o secretário municipal de Saúde, Fábio de Mello.
Infraestrutura pública em expansão
Foz do Iguaçu conta atualmente com 344 leitos hospitalares na rede pública, sendo 61 deles de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), segundo o secretário.
“Temos 100% de cobertura da Estratégia Saúde da Família, um marco importante para o atendimento integral da população”, destaca.
A média mensal de atendimentos nas unidades públicas é alta: cerca de 690 mil atendimentos na Atenção Primária e 168 mil nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Ainda assim, persistem filas para procedimentos de média e alta complexidade, especialmente em otorrinolaringologia, ortopedia, ginecologia e cirurgias pediátricas.
Entre os desafios, o secretário destaca que “a população flutuante, composta por turistas, trabalhadores temporários e cidadãos estrangeiros, aumenta significativamente a demanda, sem que haja financiamento adequado por parte da União para municípios de fronteira”.
Além disso, a escassez de profissionais em algumas especialidades médicas e a burocracia nos processos de contratação dificultam a ampliação da rede.
Nos últimos anos, a cidade recebeu importantes investimentos, como reformas em Unidades Básicas de Saúde (UBS), construção de novos equipamentos, aquisição de veículos e reforço no Hospital Municipal, que realiza até 600 cirurgias por mês e recebeu o selo “UTI Eficiente 2025”.
Segundo Fábio, “com a continuidade de uma gestão comprometida, o município tende a avançar de forma sustentável, ampliando o acesso e promovendo um modelo de saúde focado em resultados e inovação.”
O motor privado da saúde em Foz do Iguaçu
Em novembro de 2024, Foz inaugurou o Medical Day Center, um investimento privado estimado entre R$ 100 e R$ 180 milhões. O centro dispõe de mais de 100 consultórios, seis salas cirúrgicas e 15 leitos de recuperação, operando atualmente com 70% de ocupação e previsão de capacidade plena até 2026.
Outros hospitais reforçam a importância da cidade no setor: o Itamed, eleito pela revista Newsweek entre os 20 melhores do Brasil e o melhor do Paraná; o novo hospital da Unimed Foz, com 60 leitos e 10 UTIs; e o Hospital Cataratas, que realizou mais de 5 mil cirurgias em 2024, mesmo enfrentando desafios judiciais.
Talento que forma e permanece
A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) já formou 305 médicos e conta com 377 alunos matriculados atualmente no curso de Medicina.
“Os alunos estão inseridos desde o primeiro semestre na rede de saúde, o que humaniza o atendimento e atualiza os serviços”, explica a coordenadora do curso, Dra. Tatiana Pinheiro Rocha de Souza Alves.
Ela ressalta que a formação foi pensada para integrar o contexto social da Tríplice Fronteira:
“No período da pandemia, os alunos desempenharam papel fundamental em várias frentes, como teleatendimento e barreiras sanitárias na Ponte da Amizade.”
Muitos egressos permanecem atuando na região, especialmente em UPAs e UBSs. Segundo a coordenadora, a procura pelo Programa Mais Médicos é alta, mas a oferta de vagas é limitada. Os programas de residência médica são bastante procurados e diversos já foram incorporados ao corpo de residentes do Hospital Itamed.
Sobre o futuro, a Tatiana destaca o potencial de Foz como polo de pesquisa e inovação:
“Temos uma promissora linha de pesquisa sobre o uso de canabidiol no tratamento do Alzheimer. Com maior qualificação dos médicos, podemos nos tornar um polo médico regional.”
Ela também aponta desafios estruturais.
“A infraestrutura hospitalar ainda é um ponto crítico, especialmente em períodos de aumento de doenças sazonais. A pesquisa clínica precisa ser ampliada, com ensaios clínicos e laboratoriais, e a universidade tem papel fundamental nisso“.
Turismo e inovação: os novos pilares da saúde
Foz do Iguaçu vem se consolidando como destino de turismo de saúde internacional.
Segundo dados do Visit Iguassu, em 2025 a cidade sediou sete eventos médicos, movimentando R$ 37,1 milhões na economia local. Para os próximos anos, cinco eventos já estão confirmados, com impacto econômico previsto de R$ 82 milhões até 2030.
Hotéis locais se adaptam para receber pacientes em pré ou pós-cirúrgico, reafirmando a vocação da cidade para esse segmento. Entre os pacientes estrangeiros atendidos no SUS, 83% são paraguaios, seguidos por argentinos e venezuelanos.
Além do turismo, outro pilar vem ajudando a cidade no novo posicionamento médico: a inovação. Foz do Iguaçu se destaca no uso da inteligência artificial (IA) na gestão pública de saúde. No Hospital Municipal, a implantação de IA na UTI otimiza processos e auxilia a tomada de decisão médica, fornecendo diagnósticos mais rápidos e precisos.
“A inteligência artificial permite acesso ágil a informações clínicas, aumentando as chances de recuperação dos pacientes. O sistema também melhorou o controle de vacinas, resolvendo falhas que antes colocavam a cidade em alerta vermelho de imunização”, explica Fábio.
Há, ainda, sistemas digitais integrados unificam dados para médicos e gestores, e projetos de pesquisa clínica em parceria com universidades.
Um gigante em construção
De altos índices de recuperação durante a pandemia: 94,1% em Foz, frente a 93,8% em Cascavel e 95,2% em Londrina, à atração de pacientes internacionais, a cidade vem quebrando paradigmas.
“Nos próximos anos, Foz do Iguaçu deve se consolidar como uma referência nacional em atendimento público de qualidade e gestão eficiente do SUS. É fundamental garantir continuidade, consistência e responsabilidade na gestão para alcançar resultados concretos”, projeta o secretário Fábio.
Com novos investimentos, expansão da pesquisa, crescimento hospitalar e a força da Tríplice Fronteira, Foz deixa de ser apenas destino turístico para se firmar como um polo médico em formação, com potencial para transformar a saúde regional e nacional.
Foz do Iguaçu em números – O novo polo médico do Paraná
- R$ 50 milhões em investimentos públicos em saúde;
- 344 leitos públicos, sendo 61 UTIs;
- 100% de cobertura da Estratégia Saúde da Família;
- 45,5 mil estrangeiros atendidos na rede pública em 2024 (+34% em relação a 2023);
- 5% dos atendimentos do SUS são de estrangeiros;
- 305 médicos formados pela UNILA e 377 alunos em formação;
- 70% de ocupação do Medical Day Center, com capacidade plena prevista para 2026;
- 7 eventos médicos realizados em 2025, movimentando R$ 37,1 milhões;
- 83% dos pacientes estrangeiros são paraguaios.
Comparativos:
Cidade | Investimentos em 2024 | Investimentos em 2025 |
Foz do Iguaçu | Aumento de 15,1% no orçamento da saúde em relação a 2023. Destaque para obras, renovação de frota e custeio estimados em R$ 19,7 milhões, e previsão de investimento superior a R$ 300 milhões entre saúde e educação. | Continuação do pacote de obras com destaque para três novas unidades (Ambulatório de Especialidades, Pronto Atendimento, UBS) e custeio de consultas e exames (totalizando R$ 19,7 milhões). Policlínica federal em construção (PAC Saúde) com investimento previsto de R$ 30 milhões. |
Curitiba | Investimento recorde de R$ 3,2 bilhões (orçamento municipal), representando 20,29% do orçamento; foco em prevenção, ampliação do acesso e infraestrutura. | Projeção de investimentos de R$ 3,4 bilhões; plano plurianual prevê alcançar até R$ 2,4 bilhões de novos investimentos entre 2022 e 2025. |
Londrina | Aplicação de R$ 272,6 milhões até o 2º quadrimestre (20,64% da receita de impostos), com foco em reformas de unidades e mutirões de atendimentos. | Novas diretrizes e programas anunciados para ampliar e modernizar a rede 2025-2028; continuidade dos investimentos, mas valores específicos não divulgados publicamente. |
Maringá | Obras do Parque Tecnológico Industrial de Saúde do Tecpar, investimento estratégico estadual/federal, e orçamento municipal da saúde com suplementações. | Orçamento inicial de R$ 793 milhões atualizado para R$ 822 milhões em 2025, com necessidade de suplemento adicional de R$ 47 milhões — total podendo ultrapassar R$ 840 milhões. Investimento federal anual superior a R$ 19 milhões em atendimento infantil e ampliação do Hospital da Criança. |
Cascavel | Investimentos estaduais na região superaram R$ 45 milhões (obras, veículos, equipamentos, incentivos), incluindo reformas de hospitais e novas UBS em 2024. | Construção de uma nova Policlínica pelo PAC Saúde com investimento federal de cerca de R$ 30 milhões prevista para 2025. |
Ponta Grossa | Orçamento para saúde previsto em R$ 301 milhões, crescimento de 23% sobre o ano anterior. Destaque para ampliação do atendimento oncológico (Santa Casa) com R$ 24 milhões. | Nova Policlínica com investimento de mais de R$ 30 milhões pelo PAC Saúde (obra federal) autorizada em julho de 2025, além de investimentos municipais recorrentes e modernizações. |