O avanço da inteligência artificial (IA) na educação tem provocado debates diversos em todo o mundo. No Brasil, o tema ganhou novo fôlego após o Conselho Nacional de Educação (CNE) propor a inclusão obrigatória de conteúdos de IA nos currículos de pedagogia e licenciaturas.
A medida pretende preparar futuros professores para lidar com as transformações digitais que já impactam o ambiente escolar e universitário. No entanto, o debate também gera divergências quando se trata da formação acadêmica.
Parte dos especialistas defende que as universidades incorporem a inteligência artificial aos currículos de licenciatura, garantindo que os futuros professores aprendam a utilizar a tecnologia como aliada no processo pedagógico.
Outros alertam para os desafios estruturais do ensino superior no país: enquanto algumas instituições avançam com laboratórios digitais e plataformas inovadoras, outras ainda carecem de recursos básicos para oferecer experiências tecnológicas de qualidade.
Até o momento, prevalece o consenso de que a preparação docente para lidar com a IA é essencial, não como ameaça, mas como ferramenta estratégica de ensino. Nesse contexto, cresce a discussão sobre como equilibrar inovação tecnológica e protagonismo docente.
Rodrigo Streithorst, CEO da Maieutics.ai, plataforma que une inteligência artificial e curadoria especializada para apoiar a criação de avaliações acadêmicas, reforça que o foco deve ser a valorização do educador.
“Há um receio natural, mas o professor é insubstituível. A IA não tem capacidade de criar vínculos, estimular pensamento crítico ou conduzir debates. Esse papel tão essencial não é reproduzível por algoritmos. Mas o que a IA pode fazer é assumir a parte operacional e repetitiva, liberando tempo do educador para aquilo que é importante: ensinar e se conectar com os alunos”, diz.
Uma pesquisa realizada pela própria edtech com mais de 13 mil docentes brasileiros embasa essa lógica: o uso de IA proporcionou uma redução de até 85% no tempo gasto na preparação de avaliações.
Para o executivo, a perspectiva justifica a ideia de que professores não devem ser formados para competir com as máquinas, mas para entender como integrá-las ao seu cotidiano de forma estratégica.
“Assim como o quadro negro foi um instrumento que potencializou a didática em seu tempo, a inteligência artificial deve ser encarada como mais uma ferramenta. O desafio é garantir que o professor esteja preparado para conduzir esse processo”, reforça.
Nesse contexto, a Maieutics.ai nasceu no Brasil com o propósito de devolver tempo e autonomia aos docentes universitários, oferecendo uma solução que vai além da simples automação de questões.
A plataforma permite transformar qualquer formato de conteúdo (de textos e PDFs a áudios, vídeos e slides) em questões inéditas e personalizadas, ajustadas ao nível de dificuldade, ao tipo de avaliação e às competências da disciplina.
O professor mantém o controle total do processo, podendo editar, adaptar e alinhar as entregas ao perfil pedagógico da instituição e aos objetivos de aprendizagem.
Já utilizada em universidades ao redor do país, a solução prevê novas funcionalidades analíticas.
“Não se trata de discutir se a IA deve estar presente ou não, porque ela já está. A questão agora é garantir que seja usada de forma ética, crítica e responsável, sempre com mediação humana. O professor segue como protagonista, mas a tecnologia entra como ferramenta de apoio para ampliar qualidade e equidade educacional”, avalia Streithorst.
O debate em torno da obrigatoriedade do ensino de IA nos cursos de formação docente reforça uma virada no setor. Enquanto a tecnologia pode melhorar a eficiência do sistema educacional, permanece o desafio de garantir que essa adoção amplie oportunidades de aprendizagem.
A votação do CNE em outubro será um marco para esse processo, mas a direção já está traçada: o futuro da educação passa pela Inteligência Artificial, sempre com o professor no centro.